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Nascimento da Helena - Parto Normal Hospitalar depois de 2 Cesáreas (VBA2C)

É com imensa alegria que venho compartilhar com vocês meu relato de parto.

 

Primeiramente preciso dizer que me decidi ao parto normal já com 37 semanas, porque tenho 2 cesáreas anteriores, e nos planos de minha mãe, eu iria fazer laqueadura. Então tinha uma coisa dentro de mim, porque nos outros partos fiz tudo para ter normal, mas os médicos, o sistema, os outros, diziam o que era melhor pra mim. Estava conformada e mesmo sonhando com o parto normal, sentia um incômodo quando me perguntavam, triste mesmo em querer tudo de novo e fracassar, achava que era melhor não sonhar. Fui de fato ouvindo quem devia, me ligando a quem vibrava comigo por esse sonho, fiz massagem, acupuntura, meditação e principalmente convenci a mim e a meu companheiro, porque envolvê-lo nisso fez a diferença, sei que sem ele não conseguiria.

No domingo 20 de out, depois de uma tarde super legal com meus grandes amigos, Aliana Camargo e sua família, e de uma caminhada pela manhã, fui dormir às 21h. Fiz as minhas orações a Nossa senhora do Bom Parto e olhei pra lua cheia. Quando foi 23h30 senti um chute da bebê que parecia o estrondo de um enorme tambor, diferente de todos os chutes, ai, pensei é hj. Levantei e fiquei pra sala, sozinha, vela acessa até as 3h da manhã, respirando e sentindo as contrações, fortes, a cada 2 min, mas breves, 30 segundos.

 

 Avisei as minhas doulas, Damaris Figueiredo e Priscila Costa. Priscila chegou às 6h, meu companheiro levou minha filha à escola e fui pro chuveiro quentinho, com a bola e a Priscila me orientando. Ficamos em casa até o 12h, quando decidimos ir ao Hospital Sta Helena, pelo fato de ter um pouco de mecônio fluido presente no líquido da bolsa e do tampão. Priscila disse que era sinal de maturidade fetal, mas era bom acompanhar no hospital, juntamente com Damaris pelo celular.

 

Começou a saga no SUS.

 

Chegamos, omiti uma de minhas cesáreas, dizendo que o meu último parto foi normal, pois eles iriam complicar. Subi com a doula, Adriano ficou resolvendo na recepção. O médico de plantão, foi resistente à autorizar o quarto de parto humanizado, mesmo estando vago, pois ele não fazia e nunca fará parto na água.

 

 Eu incrivelmente mantive a calma e solicitei como uma diplomata que me fosse possível usar o quarto, que havia me informado e que não queria atrapalhar o seu trabalho. Pedi muito, mas com um respeito sobrenatural para que ele não se irritasse comigo. Contrariado, autorizou. Meu companheiro pode participar. Achávamos que eu estava com dilação entre 6 a 7 cm, e o médico disse que estava 2 cm, tentando me desmotivar. Fui pro chuveiro, fui pra bola, banheira. Dilatava 1 cm a cada hora, então às 20h eu estava com 8 centímetros, super exausta, berrando de dor, intensamente, e me perguntava, como aquilo era possível.

 

Rezava muito, meu porto seguro foi meu companheiro, prestava muita atenção no que ele dizia. Me apoiou e isso foi fundamental. As residentes vinham fazer toque, eu não queria, mas a doula me disse que poderia auxiliar na dilatação, e justamente quando a contração vinha, forte, deitada, o que é ainda pior, ela tocava pra dilatar. Gente, o negócio era inacreditável, a intensidade da dor. Eu falava, ai gente, vem mais uma, quantas mais?

 

A Priscila e o Adri diziam, calma, vc venceu mais uma. Pensava, faltam 2 centímetros, isso vai até às 22h, aí que eu vou pra transição, aí que eu vou pro expulsivo, chega!!! Eu quero parir, agora!!! Eu cansava, e as contrações espaçavam, iam para 3 minutos, e voltavam super fortes, eu urrava. Pensei em desistir, mas alguma coisa não me deixava. Eu não queria aceitar que tinha vivido tudo e ia desistir na beira da praia. Me concentrava, calma, só mais uma hora e vc estará com Helena nos braços. Doía demais, minhas costas pareciam que iam arrebentar. Eu estava evoluindo, recolhida e isolada do caos da sala de parto coletiva, mas a equipe começou a me pressionar, para ir pra lá, pois eu estava longe para ser assistida e o bebê poderia nascer a qualquer momento. Me desesperei, eles vão me cortar de novo. Pensamos num jeito de "e agora, o que fazer"? Entrava médico, enfermeira, enfermeiro e eu ignorava. Até que conversamos, nós três e eu disse: Quero que esse neném nasça! Então vamos. Fui e deitei numa cama, disse que não queria episio e que isso, sem minha autorização era lesão corporal. Precisava ainda, ter lucidez para argumentar, os meus direitos. Contrariados, a equipe falava, "vc é quem sabe".

 

A médica foi atenciosa até, disse, menina, vc está com 10 cm, estou vendo o cabelinho do bebê, vc não vai desistir agora, olha pra mim, força comprida! Empolguei, mas estava cansada, a força vinha e eu estava descompassada, e desconcentrada, com tanta gente, e aquela pressão. A médica disse, "coloca um soro aqui nela, agora", olhei pra Priscila e ela disse, agora vai ser melhor assim Karine. Concordei.

 

Meu Deus, o que era aquilo, as contrações ficaram descontroladas, nesse momento, a médica disse, vamos para a maca, centro cirúrgico, gelei. Olhei pra Priscila. Pensei, vou! Vinha a contração e o bebê chegava perto de coroar e voltava, eu não conseguia compassar a força. A médica solicitou o enfermeiro que fez uma manobra na minha barriga, um tipo de alavanca, pois eu estava deitada.

 

Com três empurrões, Helena nasceu.

Fiz muita força no final e tive lacerações. A equipe não deu pic, não deu anestesia, esperou o cordão parar de pulsar, e me entregou a bebê, enquanto a médica fazia as suturas. Helena foi aspirada pela presença de mecônio, mas nada que comprometesse o parto ou o estado dela.

 

Ela veio pra mim, quentinha, fofa, linda. Minha vontade era descer da maca e me ajoelhar no chão. Nem acreditava, meu Deus, como vc é bom pra mim, me deu essa graça.

 

Só pensava em Deus e que depois de 24h, de dor, eu estava feliz, deu certo, ele não me abandonou. A única coisa que não me respeitaram foi o colírio de Nitrato de prata nos olhos da bebê.

 

Superei a mim mesma, as horas, a dor, o mecônio, as cesáreas anteriores, a presença constrangedora de uma DST herpes, que fiquei monitorando e fazendo acompanhamento nas últimas semanas para não se manifestar na hora do parto, superei o SUS, seu engessamento, seus procedimentos desumanos e me aproximei de meu companheiro como nunca, nos fortalecemos, éramos um. Isso foi pra mim um milagre.

 

 Devo gratidão, a todos que ajudaram, vi depois que a equipe que estava no plantão era de pessoas muito boas, que fui privilegiada, por ter usado o quarto humanizado, e muitas pessoas rezaram por mim enquanto tudo acontecia. Muito obrigada, desejo a todos que ligaram seu pensamento a mim, que recebem a minha gratidão pra sempre.

 

Karine Krewer

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