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Nascimento da Helena – Parto Pélvico

 Antes de engravidar

Sempre tive um certo medo de engravidar. Gestar um ser dentro de mim, responsabilidade com esse novo ser, noites sem dormir, corte na barriga, centro cirúrgico. Um dia tive que enfrentar todos os medos diante da minha vontade de ser mãe e de ter um filho do meu amor, meu marido. Pude perceber que Deus me preparou e me concedeu Helena no momento certo.
Meu lema era, antes e durante a gravidez, o medo sempre existirá, mas a coragem deve ser maior que o medo. E assim, segui em frente.
 Estamos grávidos
Em janeiro de 2014 descobrimos a gravidez. Tudo foi planejado, nossa filha estava a caminho.
Não tive dúvidas, inicialmente, sobre a via de parto, claro, seria cesárea! Minha mãe e irmã tiveram cesáreas... meu caminho seria o mesmo... Pensava eu.
Orações, caminhadas, pilates, hidro, yoga, consultas com a psicóloga, acupuntura, e-pino e alimentação equilibrada. Preparei meu espírito, meu psicológico e continuei minha atividade física.

 Parto ou cesárea?
Um certo dia, em conversa com uma amiga que havia acabado de parir, contei meu medo e insegurança sobre a cesárea. Ela de imediato me mostrou o caminho para a minha decisão sobre como Helena  iria nascer, abriu minha cabeça literalmente. Posso dizer que eu estava na escuridão e ela iluminou meu caminho. Apaixonei pelo PNH - Parto Natural Humanizado e fui atrás de informação logo depois.

 Buscando informações e enfrentando o marido
Relatos de Parto? Doula? Parto normal, natural ou humanizado? Médico? Ocitocina? Analgesia? Episiotomia? Sofrimento fetal? Mecônio? Evidências científicas? Pélvico, cefálico? Não sabia nada. Vi que precisava de informação para assim fazer minhas escolhas. Mergulhei de cabeça, comprei livros, emprestei alguns para eu ler, pesquisei na internet, conversei com várias pessoas sobre o assunto, participei de rodas e fiz vários cursos. Muitas dúvidas para serem sanadas, muitos mitos a serem desmascarados. Quando notei que estava mesmo decidida e sabendo pelo menos um pouco sobre o assunto resolvi conversar com o marido. De início, ele via a cesárea como única opção, independente se Helena estava sentada ou de cabeça para baixo. E não tinha noção, assim como eu, dos benefícios do parto, bem como o fato do parto ser a melhor alternativa para mim e para Helena.
Foi uma longa caminhada convencer o marido, que permaneceu relutante por um bom tempo. Percebi que tinha que transmitir a informação para ele de uma maneira mais simples, e foi isso que fiz, mandava e-mails para ele contendo links, lia trechos de livros e relatos para ele e o convidava para ir nas rodas comigo.
No dia da roda que assistimos ao filme Renascimento do parto, nos emocionamos e tivemos a certeza de que era esse o caminho que queríamos trilhar, apesar do medo do desconhecido e das dificuldades. Caiu a ficha do marido, que insistia em não aceitar o meu desejo pelo PNH, a cortina que tampava seus olhos se abriu e enfim, enxergou.

 Escolha da equipe e do hospital
Lá pela vigésima semana,  percebi que para ter o Parto Natural Humanizado precisaria de um médico atuante nessa área. Perguntei para meu médico, o qual confio, quem ele me  indicaria para PNH e ele sugeriu, de uma maneira muito tranquila o Victor- obstetra.

Uma outra amiga contou para mim sua experiência com a doula Damaris e simplesmente me apaixonei, assim foi com o obstetra.
Lá pela 30 semana algumas coisas já estavam resolvidas: via de parto, equipe e hospital.

 Incertezas sobre o Parto Pélvico
Tudo foi perfeito em minha gestação e de acordo com o médico da mesma forma se daria o nascimento. Mas o tempo passava e Helena permaneceu sentada. O que me deixava cada dia mais angustiada. Porém, de acordo com meus estudos feitos na época, o parto pélvico era possível sim. Tomei uma decisão, decisão essa que foi a melhor coisa que eu poderia fazer para me blindar dos comentários infelizes e sem embasamento das pessoas... Cheguei a conclusão que eles não mais me interessavam. Falava para quem perguntasse que Helena estava cefálica. Muitos, depois que Helena nasceu se sentiram magoados com essa minha decisão. Porém, foi a única saída que encontrei para continuar minha jornada em paz. Para mim e para o marido, Helena sentada ou cefálica, quem decidiria a melhor maneira dela nascer com segurança seria meu médico e nele confiei. Mantive uma alimentação saudável para controlar o peso, diariamente fazia atividade física, trabalhei meu psicológico (porque as vezes dava "tiute"), rezei e me fortaleci. Permaneci trabalhando até o último dia, queria ocupar minha cabeça.
Como Helena persistia na posição pélvica comecei a pensar que o PNH não seria mais para mim, chorei, rezei, entreguei meus pensamentos, minha vida e da Helena para Deus e aceitei a cesárea. Mas, continuei estudando, conversando com o marido, tirando dúvidas com o obstetra e a doula. Em consulta, ele comparou o parto pélvico com a Maria de Algodão, “ninguém nunca viu, mas todos têm medo”, disse que faria meu parto e então chegamos à conclusão que esperaríamos o trabalho de parto - TP e veríamos a possibilidade do PNH ou Cesárea com segurança. Fiquei feliz e esperançosa com essa decisão. Queria que Helena nascesse da melhor forma possível.
Enfim, essa consulta foi um marco para mim, porque me senti segura, toda aquela angústia foi embora e me deixei levar... Senti um alívio.  Helena  vai nascer saudável, isso que importa. Resolvi parar de fazer todos aqueles exercícios para o bebê virar, estava bem cansada porque trabalhava o dia todo, chegava em casa e passava horas conversando com ela, pedindo, implorando para ela virar (até chegamos a brigar), rezava muito e me colocava em algumas posições, tudo para ela virar... Nos finais de semana dava cambalhotas na piscina e dá-lhe exercícios... E nada. Pensei comigo mesmo, ela vai vir do jeito que ela quiser! Chega! Estava exausta e sem dormir de ansiedade. A partir desse dia, minha conversa com Helena era outra, conversávamos sobre o caminho para ela nascer, explicava-lhe que passaria por um “túnel” bem apertado e que ela teria que ter coragem e que não poderia desistir, tinha que ser forte, tranquila e não precisaria ter medo porque estaríamos juntas, trabalhando em equipe. Eu sempre chorava quando conversávamos sobre isso, porque sentia que ela me ouvia e tinha a certeza de que tudo daria certo.

 Chegou a hora!!
 Em casa
Minhas contrações iniciaram no dia 03/10/2014 - sexta-feira de madrugada. Deitei para dormir e comecei a sentir cólicas bem tranquilas, vinham bem espaçadas, de 40 a 40 minutos em média. Não dormi. Helena estava chegando. Só queria que esse intervalo diminuísse!! Deixei o marido dormir. Ficamos só eu e Helena em sintonia para a chegada dela ao mundo.
Acordei, e como um passe de mágica as contrações foram embora. Fiquei decepcionada.
Passei o dia todo bem, fui trabalhar e fiz minha atividade física. Quando deitei vieram novamente as contrações! Puta merda – pensei. Mais uma noite sem dormir. Mas, estava feliz. Dessa vez, estavam em média de 30 em 30 minutos. (madrugada do dia 04/10/2014) e quando vinham não conseguia mais ficar deitada, me levantava e apoiava os braços na cama e segurava o gemido (sem saber, meu corpo já havia escolhido a posição que usaria em todo o TP durante as contrações). Não queria acordar o marido. Nos intervalos conseguia dormir. E que soninho profundo!
Sábado amanheceu, um sol lindo. Assim como outros dias as contrações foram embora logo que amanheceu. Pensei – Gente, porque elas param?? Vou caminhar quem sabe elas voltam ainda hoje. E assim aconteceu. Fomos para o parque, eram mais ou menos 9 hs da manhã. Lá caminhei, o marido tirou algumas fotos da minha barriga e me filmou caminhando. Rs Minha barriga estava bem baixa! Estava calma, toda hora meu marido queria saber se eu estava tendo contrações, achei engraçado e bonitinho da parte dele.
No final do dia estava morta de cansada, isso porque o dia todo passei com contrações e barriga dura que nem tijolo. Ainda assim no final da tarde fomos à casa dos meus pais e em seguida em uma reunião da igreja. E quem disse que consegui ficar na reunião? Estava inquieta e não conseguia mais segurar a expressão de dor durante as contrações.
Apesar de tudo, não imaginei que Helena nasceria no dia seguinte.
E então, na madrugada do dia 05.10.2014, Helena começou a mostrar sinais de que já queria nascer. Tive na madrugada, contrações regulares que iniciaram de 15 em 15 minutos e foram diminuindo. 00:35, 00:45, 01:06, 01:16, 01:27, 01:35, 01:43, e assim continuaram, com uma média de intervalo de 5 a 10 minutos. Durante a contração sentia bastante dor na lombar, mas nada insuportável, era como uma cólica bem forte (eu sempre tive cólicas horríveis),  junto com a contração tive diarréia. Eu pensava que quando amanhecesse as contrações cessariam, assim como outros dias.
Já não tinha dormido a madrugada toda e quando o relógio apontou 6hs da manhã pude perceber que as contrações vieram para ficar. Liguei para o obstetra e em seguida para a doula. Já não conseguia mais comer.
Estava conectada na dor que as contrações traziam, elas eram pontuais, o que era bom, porque conseguia já me preparar para a próxima.
A massagem da doula na lombar e a pressão que ela fazia no meu quadril foram essenciais para as contrações serem suportáveis.
Eu lembro que eu pensava que não iria aguentar. Pensei em desistir sim. Mas, a cada contração sentia que ela estava mais perto e decidi que a dor seria minha amiga.
Lá pelas 10 da manhã comecei a sentir vontade de fazer força e com a força vinham os gritos. Fiquei pensando se os vizinhos conseguiriam ouvir, mas ninguém bateu na minha porta. Belinha, minha cachorrinha, ficou na porta do quarto só me olhando o tempo todo.
Queria ir a todo custo para o hospital. Mas, ainda era cedo. O obstetra havia me explicado que se eu chegasse muito cedo no hospital tudo poderia desacelerar. Nessa altura já não me lembrava mais disso e insistia com o marido e doula.
Quando comecei a sentir vontade de fazer força pensava o tempo todo que não conseguiria chegar até o hospital. Primeiro porque, como iríamos a pé para o hospital (moramos há 1 quadra de distância), com a contração vinham os gritos. Como eu iria gritar na rua? Rs. Segundo, porque achava que em uma dessas vontades de fazer força Helena nasceria. A força é involuntária e nesse momento você descobre que você tem força sim! Você se conecta em outro mundo, você com você mesma, é o que chamam de partolândia.  Agora eu entendo quando a doula dizia que eu tinha que enfrentar todas minhas paranóias, medos e preocupações antes de parir. Porque na hora sua cabeça precisa estar livre de todos os pensamentos.

 No hospital
Chegando ao hospital o obstetra verificou minha dilatação, estava com dilatação total. Nossa, que beleza, pensei. Meu marido foi dar entrada na internação e fiquei com a doula Damaris. Saindo do consultório, uma enfermeira fofinha queria que eu me sentasse a todo custo na cadeira de rodas para me levar para o centro cirúrgico. Primeiro, que eu não conseguia me sentar, Helena  já estava bem baixa e segundo, não iria nem a pau para o centro cirúrgico.
Pegamos o elevador e fomos em direção ao meu quarto. Lá já fiquei de quatro na cama. Nessa hora sua cabeça já não está mais conectada neste mundo e não pensei em nenhum momento que tinha uma galera olhando minhas partes íntimas. Meu foco era na contração.
Aprendi que a força deve ser feita durante as contrações, nos intervalos você e seu bebê respiram e descansam. Sábia a natureza.
Vendo as filmagens hoje do meu parto percebo o quanto estava conectada, não ouvia conversas de ninguém dentro do quarto. Lembro que o obstetra dizia "vai Fernanda, força comprida, não desiste". Isso me ajudou bastante.
A respiração é essencial durante o trabalho de parto, traz calma e ajuda a atravessar as contrações.
Fiquei bem angustiada quando Helena começava a sair e voltava para dentro, mas é normal e por um lado até bom para não ocorrer lacerações.
Em um momento, tive medo de vagina e ânus virarem um só buraco, eu lembro que perguntei isso durante o trabalho de parto, mas não me lembro quem respondeu que isso nunca tinha acontecido. Rs. Assim, relaxei e fiz a força apenas pensando que Helena estava prestes a nascer.
Em uma das contrações saiu a bundinha da Helena, o obstetra logo disse " agora ela não volta mais".
Cheguei a colocar a mão e ela estava ali entre minhas pernas. Fez bastante cocô e xixi. Não me lembro mais quantas contrações depois ela nasceu, mas foi bem rápido.
Muita emoção e adrenalina. Chorei bastante. Estava morta de fome e sede. Feliz e realizada. Momento indescritível, só pensava em como Deus é tão perfeito. Minha filha veio ao mundo perfeita e eu que fui protagonista do seu nascimento.
Sem dor, sem laceração, sem episiotomia, sem anestesia e sem ocitocina sintética. Nada disso precisou, Deus me fez perfeita. A natureza é perfeita. Sem traumas.
Fiquei assustada com a quantidade de sangue que sai... Resolvi não olhar. Deitei e o marido ficou com nossa Pituquinha.
Logo depois veio a placenta, não senti nada.
Dei mama imediatamente após seu nascimento. Parecia um bichinho,  grudada em mim. Linda e perfeita graças a Deus!
Para mim, as contrações trouxeram mais desconforto do que o expulsivo. Quando minha filha saiu não senti dor e sim alívio.
Helena nasceu super saudável e limpinha, ás 14:50 do dia 05/10/2014, apgar 9/10, 3.100kg, 49cm.
No dia seguinte Helena  fez apenas os procedimentos necessários, furou a orelhinha e dei o primeiro banho nela com ajuda da enfermeira ( não precisava, só queria aprender).
Se pudesse voltar atrás, faria tudo de novo, é uma experiência única, um processo natural da vida que todas as mulheres deveriam passar. Você se transforma, renasce, hoje me sinto uma mulher maravilha, a Fernanda antes de Helena, songamonga, não existe mais. Tornei-me mais forte e corajosa. Sou uma onça sim. Jaguatirica como meu marido diz.
As mulheres precisam resgatar seu poder, a sociedade recrimina a mulher e a inferioriza, e sim todas as mulheres conseguem parir, basta buscar informações e estar rodeada de pessoas que a apoiam. Fujam de pessoas que minam sua confiança. A dor é relativa, depende do seu olhar. Transforme-a em prazer, prazer de trazer sua filha ao mundo.

 

Fernanda 

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