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Nascimento da Angelina - Parto Normal depois de Cesárea

Há quatro anos tive o meu primeiro filho, João Paulo, via cesariana eletiva. Sou uma VBAC que desde aquele tempo sonhava com um parto normal, mas que caiu na vala comum das cesáreas desnecessárias. Eu e meu marido nada sabíamos sobre parto humanizado.

Na verdade, o meu esposo conhecia bem o método tradicional de parto normal adotado no Brasil. Como médico plantonista (ele não é GO) já havia vivenciado diversas vezes a experiência de trazer bebês ao mundo com a ajuda protocolar da ocitocina sintética, da episiotomia, entre outras intervenções, exatamente como aprendeu na universidade. Sofreu junto com as jovens mães que, sem informação e muitas vezes até sem pré-natal, pariram com o seu auxílio. De lição, ele carregava consigo a máxima de que: “parto normal é ótimo, mas para as mulheres dos outros”.

Mesmo diante de suas convicções bem sedimentadas, naquela época resolvi procurar uma GO que adorava fazer parto normal. Juntas, tentamos convencê-lo sobre as vantagens de se optar pelo parto normal, sem sucesso. JP nasceu de quarenta semanas na hora marcada, mas graças a Deus a cesárea só aconteceu depois do rompimento da bolsa e do início do TP, quando estávamos coincidentemente a caminho do hospital. Aquela de fato era a hora dele. Para mim, ficou a dúvida: eu teria conseguido parir? Tenho a impressão que sim. O puerpério foi tenebroso. Sofri com dores intensas no corte da cirurgia por longos quinze dias e também senti dores para amamentar por dois meses. Demorei estes dois meses para me conectar ao meu filho e para curti-lo como deveria.

Grávida novamente e diante da minha frustração anterior, decidi nem investir no parto normal. Escolhi outra GO sem sequer considerar esta hipótese. Mas no meio do caminho, duas amigas queridas fizeram despertar o meu antigo sonho. Eu e Francielly engravidamos juntas – mesma semana. Ela, antenada, já conhecia o caminho das pedras. Melhor, já havia experimentado um parto humanizado e falava maravilhas de sua experiência. Sutilmente, ela só me dizia que eu deveria me informar sobre o assunto. Paralelamente, a dentista do meu filho, Dra. Meire, também VBAC, trilhou o mesmo caminho da Fran. Depois de cinco dias de parida, a Meire passou em casa para deixar um livro enquanto seguia para levar a sua filha à escola. Achei aquilo extraordinário e decidi que eu precisava da mesma praticidade para o pós-parto.

Neste momento enfrentei a minha primeira dificuldade – trocar de médico. Muitas mulheres desistem por aí sem nem se dar conta disso. Isso acontece porque ainda temos poucos médicos que seguem verdadeiramente a linha do parto humanizado ou porque nos apegamos ao profissional que está nos acompanhando. A minha GO, apesar de muito querida e solícita, pretendia fazer o meu parto normal sem doula, com episiotomia se ela julgasse necessário e se tudo estivesse perfeito segundo a sua avaliação. Percebi que não teria muita liberdade para me valer de métodos preciosos de alívio de dor e que a medicina por evidências não seria um norte para ela e então consegui mudar para o Dr. Victor, já com 28 semanas de gestação. Dr. Victor realmente entende e respeita a ideia de que o protagonismo do parto pertence à mulher e não ao médico. Ele sempre me dizia: é você quem fará o seu parto, eu só atuarei se alguma coisa der errado.

O meu esposo então aceitou toda esta mudança, principalmente por causa do epi-no que comecei a fazer com a querida Mabel e por conhecer o Dr. Victor. O grupo do WhatsApp “nos sabemos parir”, as rodas de gestante da SOS materna, o epi-no da Mabel, a acupuntura da Evelyn e os encontros recheados de informações que tivemos com a minha doula, Damaris, foram decisivos para o meu preparo físico e psicológico.

Com 34 semanas de gestação descobri que a minha bebê, Angelina, estava sentada. Fiquei muito triste, pensando que todas as mudanças e preparos foram em vão.Sim, porque bancar um parto pélvico já era demais para o meu marido. Evelyn me ajudou muito nesta fase. Fizemos moxa por vários dias. Não fiz os exercícios para tentar fazer a bebê virar, porque eram muito desconfortáveis e eu não encontrava tempo para executá-los. Fui no consultório do Dr. Victor e ele colocou as mãos na minha barriga, forçando para baixo, e a bebê virou como um peixinho nadando. Uma semana depois, a ultrassonografia confirmou o sucesso do procedimento.

Quando completei quarenta semanas, as primeiras contrações dolorosas apareceram. Começavam leves e muito frequentes na madrugada e desapareciam pela manhã. Eram os famosos pródromos. Fiz acupuntura auricular naquele dia e eu e Evelyn ficamos na expectativa para a próxima madrugada. Os pródromos persistiram novamente. Dessa vez, as contrações eram ritmadas de dez em dez minutos. Como não ficavam mais frequentes, decidi relaxar e ignorá-las. Tive sangramento a partir de então.Tipo final de menstruação. Dr. Victor disse que era normal e até bom, sinal de dilatação. Não fizemos toque.

Fiz uma última sessão de acupuntura no outro dia. Colocamos eletrodos e a Evelyn sequer quis cobrar pelas três sessões da semana. Foi um presente.Talvez, o melhor que recebi nos últimos tempos, porque tudo engrenou na madrugada seguinte.

Por volta de uma hora a minha bolsa rompeu, após eu sentir aquele famoso estouro, mas saiu pouco líquido. Eu estava com quarenta semanas e três dias e não havia mecônio. Eu e meu esposo decidimos esperar as contrações ritmarem. Segundo o que consegui monitorar, foram aproximadamente 48 contrações entre 01h52min e 07h17min, com duração média de cinquenta segundos, numa intensidade suportável e numa frequência muito variada.

Às 05h acordei o Rodney para me ajudar com massagens e às 07h ligamos para Dr. Victor que estava entrando em uma cesárea. Damaris estava me acompanhando por telefone até então, mas coincidentemente estava de plantão durante o dia e então pediu para a Amanda me encontrar. Dr. Victor me avaliou às 09h30 e constatamos 6 cm de dilatação. Por sorte, aquele foi o único toque. Dói muito. Vi estrelas.

Internamos e começamos a nos concentrar, eu, Amanda e Rodney. Como a Damaris havia me alertado, o chuveiro do São Mateus não esquentou e tivemos que abandonar a ideia da banheira. Foram a massagem do meu esposo e as orientações da Amanda quanto ao modo de respirar que me salvaram durante as contrações. Entre uma contração e outra, não sentia absolutamente nada. As contrações eram sim muito dolorosas, mas eu estava muito concentrada. O auxílio de Amanda e Rodney, a minha playlist, o quarto escuro, a respiração e principalmente a posição em pé curvada para frente aliviavam em 50% a sensação dolorosa. Não senti medo.

No final, sem saber que já estava com dilatação total eu gritei bastante, sem pudor. Isso também aliviou e muito. Entrei na partolândia um pouco antes da Elis Freitas, fotógrafa, chegar. Só percebi sua discreta presença com o barulhinho dos flashes e então logo começaram os puxos. No primeiro, achei que era o número 2, mas a bebê desceu e já senti o círculo de fogo. Arrumaram correndo a banqueta atrás de mim e com a ajuda de Amanda e Rodney sentei. Mais um puxo, saiu a cabecinha. No terceiro e último puxo, saiu todo o corpinho. Angelina nasceu às 11h28min e foi aparada por Amanda, depois de 8 minutos do início da fase expulsiva.

Dr. Victor e Dra. Heleniza (pediatra) chegaram 10 minutos depois. Estavam muito próximos, mas nem conseguimos avisá-los a tempo. Angelina nasceu com Apgar 10/10, 2.735 Kg e 47,5cm. Confesso que nem consegui me emocionar porque fiquei muito surpresa com a velocidade com que tudo aconteceu. Eu imaginava que ia passar o dia todo com aquela dor incômoda e crescente. Só deu tempo de pensar que talvez, mais tarde, eu iria precisar de analgesia. Meu corpo fez tudo sozinho. Sem ocitocina sintética. Sem analgesia. Sem episiotomia. Com muito amor e tranquilidade. Tive apenas três pontinhos de laceração de mucosa, que foram feitos apenas por estética. A força que fiz nos puxos foi leve. Nada me angustiou.

Agradeço muito a Deus pela oportunidade de parir. Isso não me faz mais mãe do que as outras. Mas me ajuda a superar as minhas próprias limitações. A ser uma mulher mais forte e madura. Angelina veio ao mundo de uma maneira suave, com naturalidade. Aprendeu a mamar imediatamente e desde então estou curtindo o meu puerpério, que de baby blue não tem nada. Consegui chegar do hospital e dar banho no meu primogênito, levá-lo na escola despois de três dias de parida, como se nada tivesse acontecido. Naquele momento eu me senti uma super mãe, uma super mulher.

Hoje digo com propriedade a todos que enaltecem a minha atitude que corajosa é a mulher que opta por uma cirurgia desnecessária. Se a você, gravidinha, foi dado o dom de conceber e gerar, não lhe será negado o dom de parir. Deus faz tudo perfeito.

 

Giselle.

 

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